Primeiras conexões: pandemia e destruição ambiental


Yanomami acompanha agente do governo em local de garimpo na floresta amazônica - Roraima, abril de 2016. Imagem: Bruno Kelly/Reuters.


Por
Marise Costa de Souza Duarte
Professora da UFRN
Associada da APRODAB e do IBAP


Vamos conectar as coisas? No atual momento em que todos nós, residentes do Planeta, estamos sendo atingidos pela pandemia do novo coronavírus, vamos começar a pensar qual a relação desse “furacão” com a destruição ambiental que já instalou em todo o Planeta e com o modo como pensamos e vivemos? Estudando e ensinando a matéria ambiental já há algum tempo, essa tem sido uma das minhas tarefas (quase que obrigatórias) no atual momento.

Iniciando minha busca de compreender a relação entre a pandemia e a destruição ambiental, encontro, num primeiro momento, a seguinte matéria publicada (em 6.3.2020) no site da ONU Brasil: “Surto de coronavírus é reflexo da degradação ambiental, afirma PNUMA" (acesso em 13.3.2020). Segundo aquela matéria, “as doenças transmitidas de animais para seres humanos estão em ascensão e pioram à medida que habitats selvagens são destruídos pela atividade humana”.

Nesse caminho ainda encontro o Prof. Carlos Nobre (em recente participação em um dos eventos assistidos nessa quarentena, da Rede Brasil do Pacto Global, acesso em 30.3.2020) nos dizendo que, em Wuhan, na China, fatores ambientais relacionados à ocupação desordenada e consumo de animais silvestres favoreceram o aparecimento do vírus. E, se referindo ao caso brasileiro, nos dizendo que a ocupação desordenada de áreas próximas à floresta pode tornar a Região Amazônica vulnerável a zoonoses. Na mesma ocasião, o Professor ainda nos lembra que existem milhões de vírus na natureza e que a perda progressiva dos habitats naturais faz com que esses microorganismos comecem a ficar mais frequentes nos seres humanos.

Na mesma busca pela relação entre a pandemia e o meio ambiente me deparo com uma aula online (ministrada pelo médico Alberto Gonzalez), onde o mesmo lembra que as produções intensivas geralmente ocorrem com a destruição de habitats, como no caso da destruição do Bioma Amazônico para criação de pasto barato, da devastação do Cerrado brasileiro para plantação de soja; situação que, como destaca, também se verifica em outras tantas partes do mundo, como na Savana africana. O médico lembra, ainda, da transmissão de vírus em locais (totalmente mórbidos) onde são confinados os animais para produção em massa (dos alimentos que comemos) e traz à tona um dado preocupante: o surgimento de novas epidemias a cada grau de elevação da temperatura do Planeta.

Finalizando minhas primeiras reflexões no atual contexto, penso na diminuição da poluição que começa a ocorrer em todo o Planeta e em sinais de regeneração verificados em alguns ecossistemas; o que escancara (!) o fato de como nós, humanos, estamos sendo nocivos ao ambiente em que vivemos. Pensando sobre isso, não posso deixar de lembrar que aqueles efeitos positivos tendem a ser temporários e a rapidamente desaparecer quando “tudo voltar ao normal”.

A partir dessas primeiras reflexões (e intrigada com a pergunta: qual “normal” queremos que volte?) me dou conta de como temos que aprender com tudo isso que estamos vivendo! E como é necessário nos aprofundar nessas reflexões e conexões! Espero continuar nesse caminho!

Publicado originalmente em Revista Pub - diálogos interdisciplinares.

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